Aos leitores
Douglas Mota
A Baixada Fluminense é o manancial da segunda metrópole brasileira e berço da fonte de água mais pura do estado, abrigo de algumas das últimas reservas de mata atlântica do país e palco de questões de repercussão internacional, como a despoluição da Baía de Guanabara. Mesmo assim, a sustentabilidade raramente é tratada como protagonista pelo poder e passa longe das discussões na esfera pública. Bem devagarzinho, porém, a urgência em relação ao meio ambiente se amplia ao nosso redor.
Não podemos nos dar ao luxo de ignorar os efeitos locais das mudanças climáticas. As chuvas cada vez mais severas seguidas de enchentes e deslizamentos, tão comuns na região, precisam ser vistas menos como acaso meteorológico e mais como fenômenos recorrentes que devem se tornar mais graves. Ondas de calor e qualidade do ar impactam diretamente na saúde e até no bolso: conta de luz mais cara, água com gosto ruim (resultado das bactérias que se proliferam no esgoto durante o verão), trem lento devido aos trilhos retorcidos, doenças cardiovasculares. Só para citar algumas consequências.
Neste ano, a questão ambiental se tornou chave para a política local, ainda que por vias tortas. A chapa vencedora da corrida pelo governo do estado precisou trocar de vice no meio das eleições. Motivo? A candidatura do então pleiteante a vice-governador, Washington Reis, foi indeferida devido a crimes ambientais cometidos por sua gestão à frente da prefeitura de Duque de Caxias. Na ocasião, houve loteamento irregular na Reserva Biológica Federal do Tinguá, tesouro verde da Baixada, que beneficiava sua família.
Em tempos de COP-27 com protagonismo do Brasil e a abertura de um horizonte de esperança graças ao retorno da preservação de biomas, não se pode negligenciar o ponto de vista local. Grande parte da água que bebemos passou em algum momento pelas gigantescas árvores da Amazônia. Porém, esse caminho depende de outras vegetações para que matéria-prima da vida não se perca e acumule em superfícies impermeáveis de concreto, asfalto e solo degradado ao chegar até nós.
Felizmente, tem muita gente empenhada em valorizar o verde da Baixada e ampliar a consciência ambiental. Dada a urgência da questão, achei que o meio ambiente merecia uma versão temática da revista, ainda que “de bolso”, dado o tamanho reduzido. Por isso, trazemos em destaque um projeto que dá visibilidade às áreas de preservação. Literalmente, pois se trata de um concurso de fotografia – a imagem que estampa a capa desta edição, inclusive, foi a vencedora da competição.
A agroecologia e o saneamento básico são, respectivamente, o foco de dois projetos contemplados por um edital da Agência do Bem em Nova Iguaçu. Por falar em agro, ele também existe aqui neste formigueiro de gente que é a Baixada Fluminense, é formado por pequenos produtores e precisa ser conhecido. Por isso, o IBGE está neste momento realizando o censo nestas áreas rurais, com suas dores e delícias.
Mas nem tudo são flores, folhas ou frutos. Todos os anos, a paisagem muda de cor. O verde da vegetação rasteira que recobre as áreas que ainda não foram engolidas pela urbanização se transforma em preto e cinza. No lado iguaçuano da Serra do Vulcão, esse cenário que beira a distopia é gritante. Neste ano, as chamas consumiram também centenas de mudas de árvores recém-plantadas, em uma ação que visa justamente se contrapor às queimadas criminosas.
Entre uma reportagem e outra, deliciosas poesias do meritiense Lasana Lukata, que já contribuiu com a revista, para reforçar o papel da arte nesse emaranhado.
Espero contribuir com a disseminação dessa consciência em prol da vida.
Boa leitura!
Índice – Edição VIII (de bolso)
2. Reportagem: Sustentabilidade para quem precisa
3. Reportagem: Censo 2022 chega à área rural da Baixada
4. Poesia: “à margem”, de Lasana Lukata
5. Reportagem/Galeria: Fotografias em prol da conservação
6. Reportagem: Das cinzas ao verde
7. Poesia: “poema degradado”, de Lasana Lukata
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